Em depoimento à Polícia, marido de suspeita de envenenamento disse que 'não sabe responder' se acredita na inocência da mulher
22/01/2025
Diego dos Anjos também detalhou o episódio em que a esposa preparou suco para ele o filho, depois do qual ambos passaram mal. Exames detectam arsênio no marido e no filho de mulher presa por envenenar bolo
Em depoimento à Polícia Civil, Diego dos Anjos, marido de Deise Moura dos Anjos, presa por suspeita de envenenamento no RS, foi questionado se acredita na inocência da esposa, e disse que não sabe responder. Três mulheres da mesma família morreram, no Natal, após comer um bolo preparado com farinha envenenada por Deise com arsênio, segundo a Polícia Civil. Relembre o caso abaixo.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
Veja a cronologia do caso
Ele e a mãe, Zeli Terezinha dos Anjos, prestaram depoimento à Polícia nesta semana. A íntegra foi obtida com exclusividade pelo repórter Humberto Trezzi e Fábio Schaffner, do jornal Zero Hora.
O relatório indica que Diego afirmou que, ao longo do casamento, "nunca percebeu algo grave acerca da conduta de Deise", mas que "sempre soube que ela tinha intrigas com outras pessoas, principalmente em redes sociais". Segundo a investigação e testemunhas, o relacionamento entre sogra e nora era conturbado.
Diego disse também que "não acredita que Deise possa ter envenenado a farinha para que Zeli usasse no Natal e matar toda a família". E que, se Deise quisesse matar alguém, seria apenas a sua mãe.
O depoimento também descreve o episódio em que Deise preparou um suco de manga para o marido, que o filho também acabou tomando. Segundo a Polícia Civil, é investigada a hipótese de a bebida ter sido envenenada, já que Diego e o filho passaram mal. Veja trechos abaixo:
"Estava trabalhando no seu escritório em casa, e por volta de 16 ou 17 horas, Deise Ihe trouxe um suco de manga, mas não notou nada de diferente porque o declarante tem hábito de tomar suco"
"Que terminou de trabalhar umas 17h:30min e 18h:00min e começou a passar mal; Que teve um enjoo e tomou "olina"; Que após teve um vômito muito estranho e que nunca teve na vida, um vômito violento que quase não teve como segurar de chegar até o banheiro; Que não foi para o Hospital"
"Que por volta de 19h e 20h, o seu filho tomou o mesmo suco com uma torrada e foi para o quarto dele; Que o suco estava em uma garrafa disponibilizada na geladeira com acesso para todos da casa; Que o suco foi oferecido pelo depoente; Que a Deise estava no quarto do casal"
"Que nunca imaginou que o suco poderia estar envenenado, mesmo após ter vomitado como nunca vomitou antes; Que um tempo depois, uma ou duas horas, o filho vomitou e depois foi dormir"
"Que o filho dormiu e no meio da madrugada vomitou inconscientemente e, após este fato, Deise levou o filho para o Centro de Atendimento Médico da Unimed no Conjunto Comercial de Canoas. Que horas depois o filho foi liberado"
Leia também
Bolo envenenado: polícia pede coleta de sangue do marido e filho de suspeita, diz delegado
'Manipuladora', 'fria', 'dissimulada': polícia traça perfil de suspeita de envenenar bolo com arsênio no RS
Bolo com arsênio: Polícia Civil vê indícios de 'homicídios em série', e novo corpo pode ser exumado
Suspeita de suco envenado
Na segunda-feira (20), exames detectaram a presença da substância na urina de Diego e do filho. A Polícia suspeita que a bebida possa ter sido envenenada por Deise, e que o filho não tenha tomado o suco de forma acidental.
"Ao que tudo indica, o consumo do suco feito pelo filho da investigada não foi acidental. Então, mais detalhes eu não posso conceder neste momento, mas ele não foi acidental", afirmou o delegado Marcos Vinícius Veloso "Não foi acidental o consumo do suco, seja por parte do marido da investigada, seja por parte do filho da investigada".
Em nota, a defesa de Deise afirma que "não há ainda a disponibilidade dos laudos referentes ao filho de Deise dos Anjos e seu companheiro, razão pela qual no momento não há judicialização das supostas novas vítimas".
A Polícia Civil havia pedido, na última semana, ao Instituto-Geral de Perícias (IGP), a coleta de material genético do marido e do filho da mulher suspeita de envenenar o bolo que matou três pessoas da mesma família em Torres, no Litoral, com arsênio.
A investigação tenta entender agora como a farinha com arsênio, usada para fazer o bolo de Natal, foi levada até a dispensa de Zeli dos Anjos. Segundo o delegado, a suspeita esteve na casa no dia 20 de novembro, mais de 1 mês antes das intoxicações e mortes.
Investigação
Zeli dos Anjos e o marido de Deise, Diego Silva dos Anjos, prestaram depoimentos como testemunhas nesta segunda-feira (20), e não são tratados como suspeitos pela polícia.
Bolo envenenado foi recolhido ao Instituto Geral de Perícias (IGP)
Divulgação/IGP
Em nota divulgada no dia 10 de janeiro, a defesa da suspeita Deise Moura dos Anjos, presa temporariamente, alega que "as declarações divulgadas ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso" e que "aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação".
Polícia diz que sogra era alvo
Segundo o delegado, a sogra da suspeita, Zeli dos Anjos, era o principal alvo dos envenenamentos.
Delegado Marcos Veloso em coletiva sobre caso do bolo
Reprodução/RBS TV
"O principal alvo dela era a Zeli. Ela estava no dia 2 de setembro, quando fez o café com leite em pó e tudo mais, junto com seu marido, e também estava no local em que Zeli fez o bolo em Arroio do Sal e ela também consumiu o bolo e também foi para o hospital", diz.
Viúvo de mulher que comeu bolo envenenado mostra local onde vítimas passaram mal
Depois do caso do bolo ser revelado, a polícia passou a investigar se Deise Moura dos Anjos teria envolvimento também na morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que morreu em setembro, supostamente por intoxicação alimentar.
A polícia exumou o corpo, e exames constataram que ele ingeriu arsênio antes de morrer. O sogro de Deise morreu de infecção intestinal após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora.
Após a morte do sogro, um áudio enviado por Deise revela o relacionamento problemático com a família.
"A gente tá muito nervoso, muito ansioso, um pouco depressivo também. Ele era um pai maravilhoso, um avô muito querido e a minha sogra é uma peste", diz.
Os envenenados
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não comeu o bolo. Zeli dos Anjos, que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres
Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada "choque pós-intoxicação alimentar".
A mulher que preparou o bolo, Zeli dos Anjos, recebeu alta do hospital nesta sexta-feira (10). Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, ela foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. Uma criança de 10 anos, que também comeu o bolo, foi liberada na semana anterior.
Nota da defesa de Deise
"A defesa da acusada Deise, representada pelo escritório Cassyus Pontes Advocacia, vem se manifestar no sentido de que houve acesso aos laudos preliminares do IGP, quanto aos fatos ocorridos na Comarca de Torres, bem como o da exumação do corpo do Sr. Paulo Luiz dos Anjos.
Desta forma, já há contato com peritos criminais particulares para avaliação da documentação oficial e notícias veiculadas pelos meios midiáticos.
Entretanto, não há ainda a disponibilidade dos laudos referentes ao filho de Deise dos Anjos e seu companheiro, razão pela qual no momento não há judicialização das supostas novas vítimas.
Deise permanece recolhida com prisão temporária, a investigação segue, e conforme decisão judicial, ainda restam diligências a serem realizadas para a elucidação dos fatos no inquérito.
Cassyus Pontes Advocacia"
VÍDEOS: Tudo sobre o RS